Gaslighting: O Abuso Subtil

Sabia que nem todos os abusos são óbvios?

Entre os diferentes tipo de abuso psicológico, o Gaslighting é um dos mais “subtis”, pelo que, por vezes, nem o próprio abusador pode ter a noção de que o está a cometer.

Gaslighting é uma forma de abuso psicológico no qual o abusador distorce, omite ou inventa informações para se favorecer a si próprio e/ou fugir às responsabilidades dos acontecimentos, fazendo a vítima duvidar da sua própria memória, perceção e até da sua sanidade. Gaslighting não é apenas discordar de alguém ou ter uma opinião diferente, é negar a experiência do outro e fazer com que duvidem do seu entendimento da realidade. É um tipo de abuso muito comum e, ao contrário do que se possa pensar, não é apenas cometido por narcisistas. Pessoas que tiveram uma infância na qual nunca ou raramente viam as suas experiências emocionais validadas, podem acabar por cometer este tipo de abuso, sem se darem conta.

Eis alguns comportamentos de alguém que pratica Gaslighting:

· Faz-te duvidar de ti mesmo/a;

· Nega dizer coisas que realmente disse;

· Faz-te sentir mal contigo mesmo/a;

· As suas ações não coincidem com as suas palavras;

· Faz-te sentir inseguro/a;

· Desvaloriza os teus sentimentos;

· Insiste que fizeste/disseste algo que não fizeste/disseste;

· Tenta virar pessoas contra ti;

· Faz-se de vítima quando o/a confrontas;

· Corrige constantemente o que dizes;

· Chama-te de maluco/a;

· Tenta confundir-te;

· Diz-te que estás a exagerar e que és muito sensível.

O Gaslighting afeta negativamente a saúde mental da vítima e pode até levar ao self-gaslighting – a vítima internaliza as manipulações do abusador e começa a suprimir e desvalorizar os seus próprios pensamentos e emoções.

Eis alguns sinais de self-gaslighting:

· Estás sempre a pedir desculpa para evitar conflitos, mas no fundo sabes que o que aconteceu é verdade para ti;

· Tens medo de falar e te defenderes porque sabes que vais ser impedido/a de falar e/ou desvalorizado/a;

· Manténs-te em silêncio, tens cuidado com tudo o que fazes/dizes e tentas reviver os diferentes cenários na tua cabeça, variando entre a certeza do que aconteceu, a confusão e a dúvida;

· Começas a acreditar que estás maluco/a e que o problema és tu;

· Procuras constantemente validação dos teus sentimentos;

· Desenvolves um discurso interior crítico: “Estou a ser demasiado sensível”; “Sou tão dramático/o”; “Se calhar estou só à procura de atenção”; “Os meus problemas não são assim tão importantes”; “Estou a ser carente”; “Estou a exagerar”.

Se te encontras perante esta realidade, sabe que existe forma de te protegeres.

Apresentamos-te algumas de responder a este tipo de manipulações:

· “Ok, percebo que vejas as coisas dessa forma”;

· “Eu sei o que eu experienciei e isso não é discutível”;

· “A forma como eu me sinto não é discutível”;

· “Claramente lembramo-nos das coisas de forma diferente. Vamos concordar em discordar!”;

· “Não vou responder a comentários dolorosos que desvalorizam a forma como me sinto”;

· “A minha verdade é diferente da tua, independentemente do que digas”.

 

Desta forma, poderás dar a ti mesmo/a o tempo e espaço necessário para solidificares a tua perspetiva, sem correres o risco de concordar com a narrativa do abusador. No entanto, se vires que não consegues sair desta armadilha sozinho/a, procura ajuda! Um psicólogo/a pode ajudar-te a enfrentar esta realidade!

Dra. Vânia Ferreira

Psicóloga Clínica e da Saúde | Heurística – Centro de Intervenção e Apoio Pedagógico e Psicológico