Ciúme Saudável & Patológico: O que os distingue?

Tal como todas as emoções, o ciúme é natural e universal a todos os seres humanos e serve o seu propósito. Existem inúmeras definições de ciúme, contudo, todas coincidem em três pontos chave:

· O ciúme é uma reação face a uma ameaça percebida;

· Acontece quando a pessoa percebe a existência de um rival, seja ele, de facto, real ou imaginário;

· A reação associada ao ciúme surge com o propósito de prevenir a perda do amor.

Tal como supramencionado, o ciúme não é negativo, contudo, pode levar a dificuldades psicológicas, emocionais e relacionais, provocar sofrimento a quem o sente e seus parceiros, originar desgaste e o possível fim de relacionamentos, se for excessivo.

Mas então, o que distingue o ciúme saudável do ciúme patológico?

O ciúme saudável tende a estar associado a factos reais e, por isso, ocorre em situações pontuais. Tende a estar associado a um comportamento específico do parceiro, logo, é descontinuado quando a situação é resolvida e/ou os comportamentos alterados. Já o ciúme patológico costuma associar-se a preocupações injustificáveis, irracionais e fora do contexto, tende a provocar emoções desconfortáveis, pensamentos irrealistas e comportamentos inadequados. A pessoa que experiencia ciúme patológico tende a experienciar também emoções como ansiedade, depressão, raiva, vergonha, insegurança, humilhação, culpa, desejo de vingança, entre outras.

O que origina o ciúme patológico?

Este tipo de ciúme é geralmente experienciado por pessoas com baixa autoestima e autoconfiança. Pessoas que mantêm crenças negativas sobre si mesmas vêm os seus pensamentos influenciados por esse filtro. Desta forma, quando alguma situação ativadora de ciúme acontece, pensamentos que diminuem o valor pessoal podem vir à mente e, consequentemente, influenciarão também as emoções e os comportamentos da pessoa. Importa ressaltar que esses pensamentos geralmente não estão de acordo com a realidade, mas sim distorcidos pelas crenças pessoais do individuo. Ou seja, as reações da pessoa estão relacionados com os seus próprios pensamentos e não com os fatos da realidade.

Estes pensamentos podem mesmo ser intrusivos e recorrentes, levando a pessoa a lidar diária e constantemente com a dúvida e incerteza. Em resposta a estes pensamentos, podemos observar a pessoa a realizar comportamentos na tentativa de alívio da ansiedade como, por exemplo, seguir o parceiro, verificar os bolsos, verificar mensagens no telemóvel, fazer interrogações a todo o momento, entre outros.

Como consequência a estes comportamentos, a pessoa pode provocar discussões com o/a parceiro/a, que podem acabar intensificando crenças como “ele/a não me ama”, “eu não tenho valor”, “ele/a procura alguém melhor” e mantendo o problema. Por outro lado, pode também acontecer que o/a parceiro/a, em resposta a esta insegurança, demonstre maior afeto para estabilizar a situação e transmitir alívio, estando, na verdade, a reforçar o padrão de comportamento do ciúme (pessoa percebe que reagindo dessa forma, consegue demonstração de afeto).

Em suma, enquanto a pessoa que tem ciúme patológico mantiver a sua forma de avaliar as situações (não modificar os seus pensamentos) e não abandonar os comportamentos desadaptativos associados ao alívio da ansiedade, estará a manter o sofrimento. Se não conseguir quebrar este ciclo sozinho/a, procure ajuda!

Dra. Vânia Ferreira

Psicóloga Clínica e da Saúde | Heurística – Centro de Intervenção e Apoio Pedagógico e Psicológico