Auto-compaixão: Benefícios & Práticas autocompassivas

Felizmente, já muito se fala sobre o autocuidado e a importância da sua prática. Pode dizer-se até que maioria da população já foi alguma vez informada de que o autocuidado se trata de todas as atividades que realizamos intencionalmente e com regularidade, com o fim de manter ou melhorar o nosso bem-estar e saúde. O que já não se fala tanto é de uma prática de autocuidado especifica: A autocompaixão.

Mas afinal, o que é a autocompaixão e porquê disseminar a sua importância?

A autocompaixão é a capacidade individual de adotarmos uma atitude mais compreensiva e bondosa para connosco próprios, principalmente quando somos desafiados por situações stressantes, permitindo manter emoções e sentimentos presentes, com uma aceitação incondicional. De uma forma simples, é tratar-nos a nós mesmos como trataríamos um bom amigo. A definição mais completa da autocompaixão inclui três componentes básicas que a integram:

  1. Autobondade
  2. Humanidade Compartilhada
  3. Mindfulness

De uma forma simples, a autobondade consiste na capacidade de assumirmos uma posição mais carinhosa, acolhedora e compreensiva connosco mesmos, diminuindo a raiva e crítica autodirigida em todos os momentos e, essencialmente, em momentos em que falhamos ou erramos.

A humanidade compartilhada consiste no reconhecimento de que as nossas experiências, por mais assoberbantes que pareçam, estão incluídas numa experiência global da condição humana, ou seja, todos os seres humanos erram e experienciam situações difíceis. Esta capacidade permite-nos eliminar pensamentos de nós mesmos enquanto diferentes e isolados dos outros.

Por fim, o mindfulness constituiu-se como um estado de consciência que permite adotar uma perspetiva mais ampla de todas as situações, anulando o impulso de reagirmos quando assoberbados por emoções e sentimentos negativos. É abandonar o piloto automático e permitir-nos adotar uma compreensão e observação mais clara de todas as situações, sem julgamentos.

Os seus benefícios?

  • Anula a perpetuação de emoções negativas;
  • Diminui os níveis de stress;
  • Potencia a autoaceitação;
  • Promove a capacidade de autorregulação emocional;
  • Promove a adoção de práticas de autocuidado;
  • Potencia a resiliência, motivação e felicidade;
  • Potencia a saúde física e psicológica;
  • Previne o burnout.

 

Agora que está consciente do valor da autocompaixão, quer aprender a ser autocompassivo consigo mesmo? Façamos um exercício:

  1. Feche os olhos e reflita um pouco sobre as várias vezes em que um amigo próximo estava com alguma dificuldade – teve um infortúnio, fracassou ou sentiu-se inadequado. Reflita sobre como tipicamente você responde a essas situações. O que lhe diz? Que tom usa? Qual a sua comunicação verbal e não verbal?
  2. Agora, feche os olhos e faça uma nova reflexão: Pense nas várias vezes em que você estava com alguma dificuldade – porque teve um infortúnio, fracassou ou sentiu-se inadequado. Como responde tipicamente a si mesmo nessas situações? O que diz a si mesmo? Que tom usa? Qual a sua comunicação verbal e não verbal?
  3. Notou alguma diferença entre como você trata os seus amigos próximos perante dificuldades e como se trata a si mesmo?

 

Depois deste exercício, considera-se autocompassivo?

Deixamos uma sugestão para desenvolver uma melhor relação consigo mesmo, promovendo a sua autocompaixão:

  • Tente escrever diariamente um diário de autocompaixão durante uma semana (ou por mais tempo, se quiser).
  • No seu diário, anote alguma coisa com a qual se sentiu mal, alguma coisa pela qual se criticou ou alguma experiência que lhe tenha causado dor.
  • Agora, para cada evento difícil que tenha escrito, procure experimentar autobondade, humanidade compartilhada e mindfulness.
    • Autobondade: Escreva para si mesmo algumas palavras gentis, como escreveria para um amigo. Diga a si mesmo o quanto se importa com a sua felicidade e bem-estar e faça-o de uma forma amorosa.
    • Humanidade compartilhada: Procure reconhecer essa experiência como algo que faz parte da condição humana. Isso pode incluir reconhecer que o ser humano não é perfeito e que todas as pessoas têm esse tipo de experiências difíceis.
    • Mindfulness: Por fim, procure trazer alguma consciência e clareza para a forma como se sentiu. Escreva sobre as suas emoções e procure ser recetivo, sem minimizar ou dramatizar a situação e principalmente, sem julgamentos sobre o que quer que tenha sentido.
  • Reflita sobre como se sentiu depois da escrita.

 

Esperemos que o mero conhecimento do que é capaz de criar para si mesmo, o/a possa ajudar. Mas lembre-se, se achar que não consegue percorrer este caminho sozinho/a, procure ajuda de um psicólogo!

 

Dra. Vânia Ferreira

Psicóloga Clínica e da Saúde | Heurística – Centro de Intervenção e Apoio Pedagógico e Psicológico