O “porquê” por trás do mau comportamento em sala de aula

Estudos comprovam que a parte mais desgastante do trabalho de professores/as e/ou educadores/as é a gestão do comportamento em sala de aula e gestão das emoções negativas que a essa tarefa se associam. Por muito que se aprenda sobre a gestão de comportamento, com o desenrolar das tarefas diárias e convivência constante com os alunos, é normal que, em alguns momentos, o cansaço dos professores/educadores possa levar a alguns erros que potenciam ou mantêm os problemas de comportamento dos alunos. Assim, neste texto exploramos um erro comum que poderá estar a cometer na gestão da sua sala de aula: o de definir mau comportamento por aquilo que parece ser.

Quando tentamos mudar comportamentos negativos, tendemos a descrever os comportamentos apenas por aquilo que vemos (ex. gritar, bater, sair do lugar). Definir comportamentos pelo que é passível de ser visto apenas nos dá uma imagem incompleta do comportamento, diz-nos pouco sobre o porquê de ter ocorrido e não nos ajuda nos nossos esforços para tentar mudar esse comportamento. Por exemplo, ter um estudante que não está concentrado na tarefa é um problema comum em sala de aula. Se dois estudantes estão, regularmente, distraídos das tarefas, eles podem ou não estar distraídos pela mesma razão. Se estiverem distraídos por razões distintas, então a nossa abordagem para mudar os seus comportamentos deve também diferir. Na verdade, a estratégia que irá eliminar a distração de um dos alunos, pode até piorar a distração do outro, se as razões da distração forem diferentes. Só porque dois comportamentos parecem iguais, não significa que sejam, de facto, iguais.

Assim, os professores/educadores precisam de se questionar “porque é que o aluno fez aquele comportamento?” ou, de forma mais simples “O que é que ele ganhou com aquele comportamento”. Ainda que os maus comportamentos dos alunos pareçam não ter razões especificas, eles servem um propósito, senão não ocorriam. Ainda que alguns problemas de comportamento sejam resultado de problemas orgânicos (ex. hiperatividade), a maior parte dos comportamentos acontecem por uma de duas razões: (1) para obter algo (ex. atenção de outro estudante ou do professor, ganhar privilégio, receber um brinquedo, etc.) ou (2) para evitar algo (ex. tarefas, ordens do professor).

Para determinar a função que um comportamento serve para um aluno, os professores/educadores precisam de observar o que estava a acontecer na sala de aula, antes e depois do comportamento ocorrer. Esta recolha de informação é chamada de análise funcional. Um quadro de Antecedente-Comportamento-Consequência pode ser usado como ferramenta para esta análise funcional. Este quadro tem três colunas nas quais registamos o comportamento e o que aconteceu antes e depois do mesmo. A forma mais geral de fazer este quadro é dividir uma folha de papel em 3 colunas, cada uma com o seu nome, “antecedente”, “comportamento” e “consequência”, nesta ordem particular. Quando o comportamento ocorre, escreve-se o comportamento na sua coluna, assim como o que aconteceu imediatamente antes e imediatamente depois.

Uma análise funcional dá-nos uma visão mais completa do comportamento, ao incluir os seus antecedentes, ambientes e consequências. Assim que determinarmos o “porquê”/ a função do comportamento, precisamos de ensinar e reforçar um comportamento substituto adequado que sirva a mesma função que o comportamento a evitar. Por exemplo, se a Olívia goza com os colegas no recreio porque é a única forma de ela obter a sua atenção, precisamos de ensinar à Olívia uma forma apropriada de ela conseguir atenção dos colegas, tais como partilhar ou pedir para ser integrada num jogo. Uma análise funcional pode até revelar que mudanças nos métodos de ensino do professor são necessários. Por exemplo, se o Ricardo, tende a ter comportamentos disruptivos na aula de matemática, uma mudança no “como” ou “o quê” está a ser ensinado, pode ser o necessário. O problema pode ser o Ricardo estar a necessitar de algumas competências mais básicas necessárias para a aprendizagem das matérias seguintes. Ao rever essas competências mais básicas, podemos reduzir as frustrações e comportamentos disruptivos, e maximizar a aprendizagem.

Esperamos que esta estratégia se revele útil e eficaz. Reconhecemos o impacto que o ensino tem sobre os professores e valorizamos a sua saúde mental!

Fique atento ao blogue, iremos partilhar mais estratégias de gestão de comportamentos em sala de aula.