Pensar & Enfrentar uma Doença Oncológica

Se alguma vez leu alguma das nossas publicações ou se já teve algum contacto com a Terapia Cognitivo Comportamental, saberá que esta segue o pressuposto de que não são os acontecimentos da nossa vida que despertam emoções em nós, mas sim a interpretação que fazemos desses acontecimentos. Por outras palavras, face aos diferentes eventos, nós criamos significados, interpretações, e serão esses significados que nos farão sentir e, consequentemente, comportar de determinada forma.

Tire um momento para pensar em pessoas que já conheceu ou ouvir falar, que têm ou já tiveram cancro.

Será que elas experienciaram a mesma emoção face ao diagnóstico?

Será que todas lidam ou lidaram com a doença da mesma forma?

Em geral, se analisarmos uma variedade de indivíduos que já vivenciaram esta doença, verificamos que existem inúmeras formas de ver e enfrentar o cancro. Portanto, podemos concluir que a maneira como interpretamos as situações tem um poder muito maior em provocar certas respostas do que a situação em si.

Assim sendo, as ideias que as pessoas têm acerca do cancro possuem grande influência na forma como estas encaram a doença. Um forte estigma ainda presente é a visão do cancro como uma sentença de morte, o que pode levar à vivência de um estado prolongado de ansiedade e depressão. Essa mesma visão faz com que pessoas próximas a quem está doente, ou mesmo os seus médicos, evitem falar ou expor detalhes sobre o diagnóstico e tratamentos. Estes comportamentos aumentam o estigma que a pessoa mantém relativamente à doença, sendo comum vermos pessoas com dificuldades em falar dela usando o seu nome e referindo-se à mesma como “aquela doença” ou “aquilo que prefiro não dizer o nome”. Esta postura em relação ao diagnóstico, prejudica o enfrentamento à doença.

Para além da existência destas visões distorcidas acerca do cancro, existem também diversas questões frente ao diagnóstico que chocam com aspetos e valores pessoais, afetando cada pessoa de forma distinta. Assim, a ameaça que um diagnóstico de cancro representa pode ser interpretada de diversas formas. A título de exemplo, pessoas com valores fortemente ligados à aparência poderão enfrentar a queda de cabelo consequente dos tratamentos como uma ameaça à visão que têm de si mesmas, podendo dificultar a adesão ao tratamento e gerar um nível significativo de stress. Já no que se refere à fadiga, outra consequência comum dos tratamentos, pode afetar mais aquelas pessoas que costumam ser muito ativas no seu dia-a-dia. Como podemos perceber, o significado que a doença tem para os indivíduos, faz com que estes ajam de determinada maneira, podendo facilitar ou dificultar a sua adesão ao tratamento.

Resta ainda falar das interpretações erradas que tendem a ocorrer face a sintomas da vivência do cancro ou mesmo do tratamento. É natural os pacientes sentirem ansiedade devido a todas as dificuldades associadas à doença e aos seus tratamentos, desde a incerteza em relação ao futuro, a lida com a dor, a fadiga, o cansaço devido às insónias, a irritabilidade, a falta de controlo sobre a situação, entre outras imensas. Contudo, esta ansiedade tem os seus próprios sintomas físicos, como é o exemplo da sudação, a tensão muscular, as palpitações fortes, a falta de ar, entre outras. E a verdade é que muitos destes sintomas da ansiedade são semelhantes aos sintomas que se associam aos tratamentos. Assim, podem surgir dificuldades quando os pacientes fazem interpretações erradas destes sintomas e confundem a ansiedade com sinais de que algo está errado ou de que o seu estado de saúde piorou, acabando por intensificar esta mesma ansiedade. Por consequência, os pacientes vivem em constante alerta, criando um ciclo de ansiedade.

Como pôde perceber, o cancro é mais do que uma doença associada à condição física. Aliás, muita da influência do processo está, realmente, associada às cognições (pensamentos) e emoções do/a paciente. Por isso, informe-se e procure ajuda. Um profissional de Psico-oncologia pode ajudá-lo/a a melhor compreender os seus padrões de pensamento e como eles podem estar a influenciar a sua vivência do cancro. Mais ainda, um/a psicólogo/a pode ajudá-lo/a a desenvolver os recursos necessários para enfrentar, de forma ativa, esta doença!